Foto: arquivo pessoal da professora Maria da Conceição Silva
Montagem: Josselene Marques
Este ano a Semana Santa foi superespecial para mim. Depois de muitos anos, reencontrei alguém que me fez voltar à memória os meus seis anos de idade.
O momento exato do flashback foi um “30 de Setembro”. Todos os anos, nesse dia, declarado feriado municipal em homenagem à data da libertação dos escravos mossoroenses no ano de 1883, acontecem os tradicionais desfiles cívicos. Como de praxe, eu e mais algumas centenas de crianças fomos representar as nossas escolas. No local de concentração, enquanto esperávamos a nossa vez de desfilarmos, acabei me impacientando e resolvi passear pelas imediações – atitude da qual me arrependi poucos minutos depois.
A cidade estava bastante movimentada – lotada de turistas. Centenas de pessoas se deslocavam em várias direções à procura de um lugar melhor para assistirem ao desfile.
Após me distanciar apenas alguns metros, de repente, eu me vi cercada de estranhos, que caminhavam em grupos e com relativa pressa. Eu era pequenota e andava com certa dificuldade em meio àqueles adultos. Houve vezes que, por pouco, não fui “atropelada” por eles. Justamente por tentar esquivar-me e sair ilesa dessa multidão, afastei-me mais do que devia e perdi o ponto de referência. Na verdade, não conhecia bem aquele trecho da cidade. Conscientizei-me do tamanho da minha imprudência quando constatei que havia me perdido dos meus pares. De olhos arregalados, a ponto de chorar, segui em frente, mesmo sem saber qual seria o meu destino. Nesse momento de aflição, fiz o que é peculiar a toda pessoa que tem fé: pedi a ajuda de Deus e, como por milagre, surgiu na minha frente um rosto conhecido: o de Tia Ceição (Maria da Conceição Silva) – a professora das minhas irmãs. Corri ao seu encontro e pedi que me ajudasse a voltar para a concentração. Sorrindo, ela me disse para ficar calma e concordou em me conduzir para o local de onde jamais eu deveria ter saído sozinha. Enquanto nos dirigíamos para lá, ela perguntou quem havia me levado para o desfile. Eu respondi que fora o meu pai, pois minha mãe ficara em casa cuidando dos meus irmãos mais novos.
Enquanto isso, na concentração, as professoras já haviam dado por minha falta e avisado ao meu pai, que começou a me procurar pelas ruas adjacentes. Devido à ajuda do meu “anjo salvador”, não teve muita dificuldade para me encontrar. Foi a minha sorte, pois até que ele foi muito compreensivo comigo (fez apenas um pequeno sermão – a fim de que eu entendesse o risco que corri. Como resposta, asseverei a ele que isso jamais se repetiria. Por fim, a travessura foi relevada). Nosso encontro se deu, exatamente, na lateral de um prédio onde, atualmente, funciona o Banco do Brasil da Avenida Alberto Maranhão.
Minutos depois, após ser abraçada pelos colegas que se preocuparam comigo, desfilei com alegria redobrada: primeiro, por poder representar a minha escola e, segundo, por não ter entrado para a lista de crianças desaparecidas.
Rever a querida Tia Ceição – a quem serei eternamente grata – me fez relembrar esse episódio da infância e chegar a uma conclusão: Deus me ama e protege desde sempre – não me envergonho de professar a minha fé. De mais a mais, como nada acontece por acaso, com esse "susto", aprendi a prudenciar. Desde então, na medida do possível, tenho procurado evitar tudo que seja passível de erro, dor ou dano e, por isso mesmo, vivo em paz comigo e com as pessoas que me cercam.