quarta-feira, 24 de junho de 2009

Ao educar, não dê respostas; ensine a pensar.

Imagem: WEB


Recentemente, no auditório da biblioteca Ney Pontes Duarte, assisti ao excelente vídeo “O saber e o sabor” no qual teóricos e professores de renome dão depoimentos sobre a educação. Um deles, o teólogo, filósofo e psicanalista Rubem Alves, me chamou a atenção ao proferir uma frase que soou especial, para mim, pela profundidade de seu significado: "Educar não é ensinar respostas. Educar é ensinar a pensar." Achei-a linda, anotei-a, comentei-a com um amigo e memorizei-a. Enquanto fazia o percurso de volta para casa, reflexionei bastante. Como ensinar a pensar na atual conjuntura? Como vencer o comodismo e a preguiça mental dos nossos educandos?

Consciente das condições precárias de inúmeras escolas espalhadas pelo nosso Brasil (apesar dos vários investimentos dos governos, que são ainda insuficientes devido à dimensão territorial, à grande quantidade de escolas para manter e à praga da corrupção), do descompromisso de um bom número de profissionais, desta área, e da falta de apoio de boa parte dos pais, fiquei a imaginar de que forma todos poderíamos, realmente, educar se, além de todos esses entraves, pesquisas nos informam que, em cada grupo de dez alunos, nove visam apenas a nota e preferem o ensino mecanizado com atividades de prontidão. Se professores comprometidos tentam fazer algo diferente e favorecem que os alunos sintam-se livres para desenvolver o raciocínio lógico e cognitivo, logo são desencorajados pelos demais colegas e hostilizados pela maioria dos “estudantes”. Estes, pelo fato de estarem habituados à “decorebas” ou aos velhos e “práticos” questionários objetivos, não conseguem responder às questões subjetivas, isto é, que impliquem em raciocínio ou aplicação do conteúdo ministrado. Muitos pais, por sua vez, deixam-se influenciar pelos filhos e chegam ao extremo de pôr em dúvida a competência desses professores, segundo eles, “inovadores”, transferindo a culpa do fracasso dos filhos para os mesmos.

Se compararmos a escola dos anos sessenta com a do ano 2009, constataremos que a sua clientela não tem a mesma formação doméstica do século passado - como era de se esperar -, muito menos os valores morais. Antigamente, as crianças aprendiam, em seus lares, o respeito, principalmente, pelos mais velhos, pais e professores. Eram ensinados a considerar os mestres como os seus segundos pais.

Hoje, a base familiar está desestruturada e respeito é artigo de luxo. Se só damos o que temos, como uma criança que vive largada, solta pelas ruas ou passa a maior parte do tempo diante da TV ou do computador, tendo acesso a todo tipo de informação, sem censura ou questionamento, pode ser educada ou desejar sê-lo?

Automaticamente, a escola acaba “tomando” para si a tarefa de fornecer a esse aluno, além da educação, a formação que deveria ser dada pelos pais. Atualmente, estes são meros provedores, por ocuparem quase todo o seu tempo no trabalho, com o objetivo de atender às exigências, cada vez maiores, dos filhos. Desta forma, negligenciam a sua parte na parceria com a escola. Esta, sobrecarregada, não dá conta e, em consequência, somos obrigados a conviver com situações de desrespeito, violência e impunidade, entre tantas outras, que vêm transformando nossas escolas em lugares intranquilos e até perigosos.

Como aprender a pensar em ambientes como esses? Como ensinar a pensar, se a maioria sequer quer ouvir o que os verdadeiros mestres têm a dizer?
Agora, caro (a) leitor (a), é a sua vez de pensar...
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2 comentários:

Anônimo disse...

Josselene,
o seu artigo me fez pensar pelo lado de "antigamente" e percebo, realmente, que houve uma mudança radical entre esses dois personagens - professor e aluno. Para começo, não é mais professor é educador; não é mais aluno, é aprendente e é educando; o respeito e a confiança no conhecimento do mestre já ultrapassou os limites do muro das universidades e, essa corrida frenética por mais espaços e colocações profissionais, impulsionam a indústria que fomenta a ganância naqueles que estão à frente das instituições de ensino, em detrimento ao conhecimento verdadeiro e correto que essas próprias instituições deveriam terem. Seu artigo é pertinente, está muito bem feito e nos serve como base para nossas reflexões. Parabéns!
Abraços,
Raimundo Antonio

Josselene Marques disse...

Professor:

É uma honra recebê-lo neste espaço.
Obrigada por sua contribuição. Ela enriqueceu a minha postagem.
Volte sempre!
Cordial abraço!