sábado, 24 de outubro de 2009

Saber viver...


Imagens do Clip-art
Montagem: Josselene

Hoje, de súbito, me veio à mente a lembrança de uma pessoa que me chamou a atenção, em um transporte coletivo, no início desta semana.

Logo que entrei no ônibus, fui cumprimentada por um jovem senhor que, observei em seguida, interagia facilmente com todos os passageiros aos quais tratava por “irmão” ou “irmã” – eis a razão do seu apelido: Irmão. Conhecido lavador de carros, com problemas neurológicos, ganha o seu pão diário trabalhando no estacionamento da ponte Jerônimo Rosado. É surpreendente a forma como se comunica com todos e, mais ainda, a filosofia contida em suas palavras. Felizmente, o comprometimento mental não impede que ele nos brinde com sua sabedoria e seu otimismo diante da vida.

Em determinado momento do percurso, quando passamos próximo ao Cemitério São Sebastião, ele disse: “Vejam, essa aí é a casa de todos nós: do rico, do pobre, do normal e do doido. Todo mundo vem morar aí. Nós somos velas acesas. A qualquer hora, vamos apagar. Por isso, é melhor dar valor e aproveitar a vida e fazer o bem.”

Infelizmente, foi impossível memorizar todos os “toques” que ele deu às pessoas que lhe prestavam atenção. Cada passageiro ganhou um “Bom dia” na entrada e uma bênção na saída da condução. Seu bom humor contagiava a todos. De minha poltrona, no meio do coletivo, só o vi queixar-se uma única vez: o fato de tomar um medicamento controlado que o impossibilita de acordar mais cedo e faturar mais. Ele disse: “Estou atrasado. Já deixei de lavar pelo menos três carros. É isso mesmo, mas Deus vai ajudar.”

Já no meu ambiente de trabalho, me pus a refletir: quantas vezes nós – que temos formação acadêmica, emprego e salário garantidos e somos saudáveis mental e fisicamente - enfrentamos o dia ou chegamos ao final dele de mau humor, nos lamentando, nos sentindo infelizes porque o mundo não gira da forma e no tempo que, egoisticamente, desejamos? Pensando bem, isto chega a ser uma afronta ao nosso Deus – ainda mais se considerarmos os desvalidos espalhados pelo mundo. Façamos, então, como este sábio Irmão que, apesar das limitações mentais, consegue enxergar e valorizar o presente que ganhamos todos os dias: a oportunidade de renascer junto com o sol e encher de luz as nossas vidas. É mister que aprendamos a viver, pois, na maioria das vezes, somos felizes e privilegiados e não nos damos conta disto.

Copyright © 2009 – Josselene Marques
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4 comentários:

Anônimo disse...

Com certeza, Josselene, uma lição para todos nós. Aliás, se prestarmos bem atenção, as maiores lições que recebemos em nossas vidas são de pessoas que se encontram com mais dificuldades que todos nós. Acredito ser o alerta do Senhor para mostrar que nossa cruz não é mais pesada que as demais. Uma ótima crônica.
Abraço,s
Raí

Mágda Marques disse...

Selene, estou sem vocabulário para dizer o quanto estou FELIZ, por mais este prêmio que você acaba de receber! São textos como este "Saber viver..." que demonstram o quanto você vive "antenada" e não deixa escapar oportunidades de aumentar a sabedoria e reparti-la conosco... Parabéns mesmo! Você merece! ISTO, E MUITO MAIS! Deus continue te abençoando, sempre! Um abraço do tamanho da sua competência!!!

A R Gurgel disse...

Lembrou-me a canção do Rei "É preciso saber viver". Bela crônica. Abraços.

Josselene Marques disse...

Dário:

Não imagina como estou contente com este prêmio. Só me resta agradecer a toda a equipe da Veja Blog e tentar manter o padrão para continuar a merecê-lo.

Cordial abraço.


Raí:

Concordo com você em tudo. Assim são as coisas.
Muito obrigada pela atenção e pelo tempo dedicado a este blog.
Você é sempre bem-vindo.
Abraço.

Mágda:

Obrigada por suas gentis palavras. Sou grata a todos vocês que me visitam e incentivam a continuar escrevendo.

Abraço.


Ângela:

É verdade. Realmente, eu lembrei dessa música quando dei o título à crônica.
Obrigada pela visita.
Volte sempre!