domingo, 19 de outubro de 2008

A natureza transgressora do homem





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O homem é um ser transgressor por natureza. Ele constrói sua identidade ao ajustar-se através da interação entre o seu "eu" e os vários "outros" que constituem a sociedade a qual pertence. É, justamente, nesse convívio que se observa a diversidade na maneira de pensar e agir do ser humano, motivo pelo qual ele próprio cria normas de boa convivência para, em seguida, a depender da situação, ser o primeiro a transgredi-las.
Da relação mútua, dinâmica e em permanente atualização entre norma e transgressão, resulta o avanço do "eu", tanto individual quanto coletivo. Freud, no seu conceito de inconsciente, já professava a existência de outra criatura dentro de si mesma, desconhecida, confusa, contraditória e irracional que infringia as normas pré-estabelecidas. Recentemente, o cientista alemão John Dylan-Haynes, após uma experiência, comprovou que o livre-arbítrio não existe. Segundo ele, é o cérebro quem toma as decisões, em seu próprio ritmo e tempo, bem antes da consciência - que é apenas um de seus componentes. Teorias à parte, é fundamental que o homem passe por uma renovação mental e comportamental, isto é, adote uma nova forma de viver e conviver que vise a valorização de sua vida e que o liberte de sofrimentos inúteis e prejudiciais. Ele precisa dar um basta à homogeneização e ao conformismo impostos pela educação, pelo Estado e pela religião. Exemplos a serem seguidos não faltam. A história está repleta de transgressores que impulsionaram o progresso e lutaram para mudar, no seu tempo, o que lhes incomodava ou indignava. Entre eles destacam-se: Buda, Sócrates, Gandhi, Luther King, Galileu e o próprio Jesus - que equiparou servos e senhores, judeus e não judeus diante do mesmo Criador, além de "ditar" um novo modo de agir de acordo com o que acreditava ou lhe foi mandado pelo Pai. Infelizmente, muitos foram caluniados, incompreendidos, punidos ou pagaram com a vida por suas transgressões. No entanto, foi graças a esses transgressores, que ousaram romper a "camisa-de-força da sociedade", que o mundo tem evoluído, embora paulatinamente, no que se refere às contraposições entre bem e mal, mandamento e pecado, código e infração.
Vale reiterar que, para viver melhor, o homem deve, constantemente e com responsabilidade, rever padrões, leis, regras e ditames. Ele também precisa ter noção de que transgredir não é simples e tampouco fácil - tem conseqüência e preço. As formas mais comuns de transgressão são: pelo crime e pela arte - a escrita, por exemplo, pode ser usada como instrumento para transformar o mundo. Ao fazer sua opção, o transgressor carece encontrar o equilíbrio entre o seu quebrantamento e o respeito ao espaço e ao direito dos outros com os quais convive - não é à toa que as mudanças amolentam. Contudo, apesar de provocar atrasos na evolução da sociedade, esta razoável consciência de limites é imprescindível ao transgressor, pois se todos resolvessem mudar as coisas a seu bel-prazer seria o caos.

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Este artigo, de minha autoria, foi publicado no Caderno Expressão, do Jornal Gazeta do Oeste, deste domingo.

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