sexta-feira, 17 de junho de 2011

Parte o Ravel brasileiro

Google Images




Há poucos minutos, através de uma rádio local, escutei a música “Você também é responsável” da dupla Dom & Ravel – CD Terra Boa, 1971.




Ao executar o flashback, o locutor estava prestando uma homenagem ao cantor e compositor Eduardo Gomes de Farias – o Ravel, que faleceu nesta quinta-feira (16), em São Paulo, aos 64 anos, uma década depois da morte de seu irmão Eustáquio Gomes de Farias – o Dom.




O nome artístico Ravel (alusão ao compositor e pianista francês Joseph-Maurice Ravel – conhecido pela peça para orquestra “Bolero”) foi dado a Eduardo por seu professor de música, devido a sua extraordinária habilidade artística.



De forma mágica, a canção me transportou ao meu tempo de criança – época em que era aluna das séries iniciais e, ainda, não entendia bem o porquê de os brasileiros viverem sob um regime no qual suas liberdades individuais eram cerceadas ou suprimidas. Embora tenha vivido nesse período, atravessei incólume as duas décadas do Governo militar, pois no meu mundo infantil tudo era filtrado e amenizado.



Foi exatamente neste contexto político que os cearenses Dom e Ravel mais fizeram sucesso, atingindo sempre os primeiros lugares tanto em execução quanto em vendagem. Enquanto outros artistas eram exilados ou presos, a dupla era bastante solicitada e tinha suas músicas cantadas em eventos cívicos e usadas até como hinos – como foi o caso de "Você também é responsável", transformada, pelo ex-ministro da Educação, Jarbas Passarinho, no hino do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral).




Segundo entrevista, concedida por Ravel, ao site censuramusical.com, em contrapartida, ele e seu irmão pagaram um alto preço por este sucesso: a dupla foi bastante perseguida e discriminada, principalmente, por pessoas do meio musical que os acusavam de bajuladores e arautos da ditadura – o que Ravel revelou ser uma inverdade.




Na realidade, sua música ufanista tinha como objetivos sensibilizar e estimular a sociedade a amar o Brasil e sua gente e, consequentemente, tentar resolver os problemas sociais dos menos favorecidos. Para tal, eles expressavam, em suas composições, os sentimentos de alegria e de tristeza dos brasileiros. À sua revelia, devido ao conteúdo social presente nas letras, suas composições eram aproveitadas para reforçar ideologias partidárias, apesar de seus autores não as haverem criado para esse fim.




Merecem destaque as músicas: "Obrigado ao homem do campo", "Animais irracionais", "Só o amor constrói", "Você também é responsável" e "Eu te amo meu Brasil" – esta última atingiu o topo das paradas musicais por coincidir com o período da Copa do Mundo realizada no México.




Com a partida de Ravel, provavelmente, a dupla se refez e, certamente, jamais será esquecida não só pelos que sempre a admiraram mas também pelos que a perseguiram. Que o Ravel brasileiro descanse em paz.

Referências:
Informações de rádio local, do Jornal do Brasil e do site Jovem-Guarda.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Também acho que eles foram injustiçados. Diante de uma reportagem de uns cinco anos atrás, eu pude ver o quanto a indústria cultural é ingrata para com os seus. Pobre, cego e, praticamente paralítico, Ravel vivia às custas de doações e uma mísera aposentadoria. Como você disse, a dupla se refez lá no andar de cima...
Abraço,s
Raí