domingo, 11 de setembro de 2011

Cansaço - Álvaro de Campos

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O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

(Álvaro de Campos)

4 comentários:

Ilaine disse...

Um lindo poema de Álvaro de Campos. Senti nele, no entanto, uma melancolia permanente.

Amiga, tenha uma semana abençoada.
Beijo!

Bernadete Oliveira disse...

Álvaro de Campos,heterônimo de Fernando Pessoa...mt profundo!

Obrigada Josse por este espaço virtual delicioso de navegar.

Um abraço.
Berna

Anônimo disse...

Um estilo puxado para o sofrer, o se maldizer, mas, também, por olhar às coisas de forma negativa, primeiramente. Ah, o cansaço existe e, de vez em quando faz bem...
Abraço,s
Raí

Ale disse...

Amiga , hace días que no podía entrar a dejar un comentario a ningún blog , problemas de internet .
Precioso está tu blog , muchos cariños y bendiciones